Thursday, December 14, 2006

Do largo da botica..

Com licença Jorge, o teu post no largo da botica tem que ser também publicado aqui!
Queres uma cidade nova? Queres uma cidade viva? Podes tê-la em qualquer lugar. Podes escolher morar onde quiseres: num centro cujo prazo de viabilidade há muito expirou; numa qualquer nova centralidade ditada por um qualquer equipamento ou supermercado; ou na periferia, junto ao campo, naquela nesga de ruralidade que subsiste na envolvente da cidade. Mas tudo é cidade.A cidade do centro, a que cai, é a que mais me preocupa. É aquela que escolhi para viver porque desdenho todas as outras. E porque gosto de sofrer, é óbvio que gosto. Não pode haver outra explicação. É tudo mais caro e eu não tenho dinheiro. Demora tudo mais tempo, do qual eu não abro mão. O espaço é mais condicionado, a vista não é simpática, a vizinhança é simpática mas característica, as ruas estão sujas, não têm calçada, nem alcatrão, mas apenas uma mistura das duas que não é coisa nenhuma, a iluminação vai falhando, o lixo vai-se acumulando e os ratos tenho-os como vizinhos.Onde há ratos há gatos, e eu gosto de gatos. Os gatos circulam livremente por telhados e logradouros. Se calhar é por isso que eu gosto desta cidade, seja ela em Torres Novas, em Coimbra ou no Porto. Saber que os gatos aparecem, que podemos contar com eles para um olhar cúmplice ou um afago sentido. Os gatos não gostam da cidade nova. Acham-na demasiado estéril, como se isso fosse possível. Mas tem de facto pouco cheiro, pouca cor, poucos motivos de interesse. A minha cidade tem que dizer qualquer coisa. Olhando para uma parede usada ou para o perfil de uma rua estreita, temos de poder ver uma história, uma imagem passada há tento tempo, uma aventura, uma qualquer banalidade, ou o quer que seja.Dizem agora que não. Que o prazo de viabilidade dos centros históricos das cidades portuguesas foi ultrapassado. Mas quem é que ditou esse prazo? Serão os mesmos que os condenaram no passado? Os mesmos que contribuíram para esta singularidade portuguesa de estarem as periferias urbanas mais sujeitas à pressão imobiliária, contrariando a velhinha teoria dos lugares centrais? Não se enganem. Esta cidade pode ser velha e nova ao mesmo tempo. Deixem-na renovar-se.Definam-se os perímetros e criem regras facilitadoras das intervenções. Atribua-se unidade ao espaço definido: uma tipologia de calçada, de iluminação, de sinalização, de equipamento urbano. Só isto ajudará para que mais pessoas circulem a pé pelas ruas, para que haja uma maior identificação colectiva com o centro e uma valorização do espaço. A cidade é as pessoas a andar nas ruas. Tem que ser agradável andar nas ruas. Limpem as ruínas, obriguem os proprietários a vender, promovam a sua posse administrativa, expropriem, façam obras coercivas, apresentem a conta, façam o que quiserem, mas arranquem esta cidade das mãos alimentadas por um Estado que se habituou a alimentar este estado de coisas.Libertem-se edifícios para equipamentos, lojas, galerias, experiências empresariais, cultura, actividades cívicas, habitação social, habitação com preços controlados, habitação de luxo ou só habitação. Seja para o que for, libertem, valorizem e usem-na. A periferia não resistirá se o centro não viver. A cidade nunca será cidade se não funcionar com todos os seus órgãos. Não crescerá. Pode engordar, inchar e aumentar. E ainda assim, não crescerá.Ela não é da minha responsabilidade. Nem tua, nem do outro, nem do proprietário ou do inquilino. Ela não é responsabilidade da Junta, da Câmara ou do Estado. Ela é responsabilidade do Estado, da Câmara e da Junta. Do inquilino, do proprietário, do outro, tua e minha. Lamúrias, pesares ou considerações avulsas. Podia continuar, mas já não vale a pena. Queres uma cidade nova? Queres uma cidade viva? Tens a certeza que ainda a queres?
JORGE SALGADO SIMÕES IN LARGO DA BOTICA
www.largodabotica.blogspot.com

Friday, December 1, 2006

O Jardim Maria Lamas

O Jardim Maria Lamas é um dos poucos espaços verdes construídos em Torres Novas após o 25 de Abril. Além do espaço -que nunca foi dignamente aproveitado-ser um dos mais belos recantos da cidade, constitui igualmente um espaço de homenagem a uma torrejana de mérito - reconhecida em todo o país : MARIA LAMAS.
(a verdade é que o Largo Humberto Delgado é um espaço desleixado; no parque da Liberdade a Placa de Homenagem aos anti-fascistas torrejanos presos pela PIDE foi vandalizada e nunca foi reposta; agora é o espaço que se reservou a Maria Lamas ser entaipado pelo betão.)
Curiosamente no PS local há três posições manifestadas na Assembleia Municipal. De acordo com o JORNAL TORREJANO Luís Gaspar Lopes, presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro absteve-se tendo mostrado o seu desacordo; Manuel Filipe responsabiliza os autarcas PSD do passado ( quando o PS é poder desde 1993) e José Trincão Marques acaba por defender o executivo de António Rodrigues afirmando que o Betão a erguer não afectará o Jardim.
A oposição contesta. Os cidadãos na zona contestam.
Os torrejanos em geral desconhecem o que se passa e o projecto em concreto.
Tudo porque o urbanismo municipal continua a ser discutido exclusivamente nos corredores da velha casa junto do Castelo...
Como se ali fosse o principio e o fim de tudo.
Alegremente vamos deixando a construção do Donut (usando a imagem do Jorge Salgado Simões) do Almonda, crescer, crescer, como uma bola de sabão, brilhante mas prestes a rebentar

José M. Pereira

JARDIM MARIA LAMAS AMPUTADO


Da última edição do JORNAL TORREJANO
Construção vai avançar sobre o espaço verde mais intimista de Torres Novas
Jardim Maria Lamas amputado
O pequeno jardim a norte da cidade de Torres Novas e que ostenta o nome de uma das figuras mais emblemáticas da cultura contemporânea, Maria Lamas, vai ser amputado de uma parcela de terreno que o irá emparedar ainda mais entre a construção do local. Numa terceira tentativa, a Câmara conseguiu que a Assembleia Municipal da passada segunda-feira aprovasse a desafectação do uso público para o privado, o que abre caminho para a descaracterização do único jardim naquela zona da cidade, considerado um lugar "intimista" por excelência.
Verdadeiro pulmão verde daquela zona urbana e um espaço de lazer para toda a população, o Jardim Maria Lamas de Torres Novas há muito que tem mexido com a preocupação dos moradores, num rara relação de estima por um bem da comunidade.
A figura que lhe está associada tem ajudado a que, ao fim de dez anos, já não fosse esperada a habitual "cedência ao betão", por parte da autarquia. Um desfecho favorável aos anseios da população era tido como quase certo desde que o presidente António Rodrigues, ainda há bem pouco tempo, numa sessão de Câmara, deu a entender que isso poderia ser viável.
O caso tem cerca de dez anos de existência e começou no mandato em que era presidente do executivo Arnaldo Santos (PSD). Os serviços de urbanismo, chefiados pelo arquitecto César Ruivo, impuseram aos construtores algumas alterações como varandas, caixas para estendais e mudança do acesso a garagens que foram ocupar uma parte dos dois lotes de 120 metros quadrados cada um, destinados a construção.
O processo acabou por transitar para o executivo de António Rodrigues (PS). A solução camarária encontrada para resolver o problema envolveu a desanexação de cem metros quadrados do domínio público para o privado, no terreno situado na área de implantação do jardim de Maria Lamas.
A finalidade é permitir a construção desses dois lotes urbanos com características comerciais, constituídos por dois pisos e cave.
Esta proposta, que por lei teria de passar pela Assembleia Municipal, entrou na ordem de trabalhos deste órgão em 26 de Setembro de 2005.
Nesta, um dos moradores da zona do jardim de Maria Lamas, Carlos Ventura Marques, distribuiu, no início da sessão, um documento com uma petição subscrita por cerca de cem moradores.
O documento repudiava a construção de mais edifícios nessa zona e alertava para o aumento de volumetria dos edifícios a construir em relação ao projecto de loteamento inicial. Este abaixo-assinado, recolhido ainda nos anos noventa, foi acompanhado por uma exposição de Carlos Ventura Marques que o complementava com dados actuais.
Em vez da luz verde para a desanexação, entendeu a Assembleia Municipal não possuir dados suficientes para proceder à deliberação que lhe era solicitada pela Câmara.
O processo foi então devolvido, para que o assunto tivesse uma segunda apreciação. Na ocasião, o próprio presidente da Junta da Freguesia de São Pedro, Luís Gaspar Lopes, em cuja área de jurisdição se situa o jardim, pediu que a proposta fosse retirada e as várias forças políticas representadas na assembleia aceitaram esta solução, entre as quais a CDU que se solidarizou de imediato.
Na Assembleia Municipal de 20 de Fevereiro de 2006, a proposta da Câmara seria novamente retirada da ordem de trabalhos, para voltar à sessão da passada segunda-feira, dia 27 de Novembro, onde acabaria por ser aprovada por uma assembleia muito dividida e após viva polémica.
Prevaleceu o número de votos da bancada socialista maioritária, dela se demarcando, no entanto, Luís Gaspar Lopes que estranhamente se absteve.
O presidente da freguesia de São Pedro lamentou que a conclusão do jardim Maria Lamas tenha estado à espera desta resolução: "Há dez anos que solicito a conclusão do jardim com a segunda fase prevista. Tenho tido sempre a reposta de que isso só seria depois da construção do bloco em causa. Não concordo, pois o prédio vai ficar paredes-meias com a estátua".
José Trincão Marques assumiu a defesa da proposta em nome da bancada socialista, alegando que o jardim será "pouco afectado", enquanto os restantes grupos se mostraram radicalmente contra.
António Canais (CDU) e Evelina Mendes (PSD) reclamam uma solução "com dignidade", António Gomes (BE) defende que "a figura e o legado de Maria Lamas não merecem este tratamento" e António Leal avança que "há outras soluções no quadro legal".
Toda a oposição quer uma saída diferente como a indemnização ou a expropriação por parte da autarquia e argumenta que a posição dos moradores deveria ser atendida. Já Manuel Filipe contrapõe que que o PS mais não faz do que "apagar fogos ateados por outros" numa alusão ao "erro" inicial que originou a embrulhada.
Presente na reunião para fazer a defesa da posição da Câmara, o vereador do urbanismo Pedro Lobo Antunes alega que "o jardim não sofre e poupam-se quarenta mil contos", apontando outra perspectiva: "Ganha-se um novo braço de entrada no espaço e o jardim não fica descaracterizado. No final, haverá uma deslocação da mesma área e apenas mais um piso na construção que o proprietário Manuel Ferreira Bento pretende para o local".
Entretanto, Carlos Ventura Marques mostra-se decepcionado: "Como morador da zona estou magoado e como cidadão sinto-me defraudado pela decisão da Assembleia Municipal de Torres Novas, por proposta da Câmara Municipal, de desafectação de uso público de uma parcela de terreno de cem metros quadrados do Jardim Maria Lamas" – diz, para acrescentar: "Esta decisão vai contra a vontade dos moradores da zona e diminui substancialmente a área da segunda fase de implantação do jardim, colocando uma enorme pressão de betão sobre a parte já edificada".
O morador está na disposição de não deixar morrer o caso por aqui: "Acima da Assembleia Municipal e da Câmara existem outras instâncias a que os prejudicados, que somos todos nós, torrejanos, ainda podemos recorrer. Vamos avaliar os mecanismos existentes, porque sentimos que esta deliberação vai contra o verdadeiro interesse público e consubstancia um atentado à qualidade de vida dos moradores desta zona da cidade".
A assembleia municipal de Torres Novas de segunda-feira aprovou ainda diversos regulamentos emanados também do executivo. O regulamento municipal de urbanização foi também contestado pelo "exagero" dos aumentos das taxas, que Lobo Antunes desvalorizou com o facto de Torres Novas ter uma localização privilegiada: "Os industriais que paguem a crise" – ironizou.
Os regulamentos de descarga de águas e rede de colectores, apoio ao associativismo desportivo e cultural, alcaidaria do castelo, cemitério, bem como a desafectação do domínio público de um troço de rua em Riachos foram outros dos documentos apreciados pelo órgão municipal.
Joaquim Lopes

Tuesday, November 28, 2006

O Rossio

Largo General Humberto Delgado - o rossio. Em setembro 2006 - mas a foto podia ser de hoje.
No preciso local onde foi prometido erguer a torre do milénio (?) está uma betoneira velha. Até a betoneira está podre.

Forum 2

Há reacções positivas a este forum. Os textos do Bicho Mau e de Graça Martins, são excelentes textos que merecem ser lidos cuidadosamente - pelo sumo que dali sai.
Há força e vitalidade em Torres Novas, para se discutir a Cidade.
E vontade.
Ainda bem. E sinceramente, esta vontade que sente, está a pedir um debate público que extravase os limites da net. Com vozes jovens e multidisciplinar.

Monday, November 27, 2006

Forum

Um forum para debater o urbanismo na Cidade de Torres Novas. Vale?