Monday, November 27, 2006

Forum

Um forum para debater o urbanismo na Cidade de Torres Novas. Vale?

2 comments:

bicho_mau said...

Torres Novas sofre neste momento das consequências de um modelo de desenvolvimento à la seculo XIX, que assume como produtores de mais-valia apenas a Industria e o Comercio classico, ou seja venda de produtos.

O grande sacrificado foi o nosso centro historico e qualquer patrimonio tangivel ou outro, que não oferecesse foros de " Modernidade".

Esquecendo por ora os valores sociais inerentes a conservação da memória colectiva, concentremo-nos apenas nos economicos.

Torres Novas, per si, não tem hoje capacidade para criar fluxos turisticos. Mas pode afirmar-se como destino secundario de duas localidades que assumem esse papel: Tomar e Fátima.

Para tal é necessario criar locais que sirvam como atractivo e especialmente como elemento de divulgação junto do "mercado de lazer" nacional.

A esmagadora maioria das localidades que se assumem como "históricas", fazem-no apoiado no nucleo medieval. Nos, neste momento, já perdemos o comboio e a reabilitação desse centro historico, com as premissas clássicas, é inviavel.

Não obstante, existem ainda arterias e nucleos de imoveis, que preservam alguma identidade. É seria esse o primeiro passo:

- Uma definição clara do que seria o nosso centro histórico e não aquela acepção empirica, " das vielas tortuosas" de tradição pseudo-islamica, que vai tendo uma resistencia incrível nos serviços tecnicos locais.

- Criterios rigorosos que definam então o que se quer proteger e que medidas tecnicas se impõem.

Estas são as premissas essenciais para uma intervenção de fundo. No fundo definir O QUE se quer preservar. Faltam então as questões mais "polissémicas" COMO e PARA QUÊ?

COMO? A minha proposta assentaria em dois vectores. O primeiro, que tocaria a esmagadora maioria dos fogos envolvidos, a promoção da habitação, vocacionada essencialmente para "unidades fiscais" com um ou dois elementos: jovens casais sem filhos, familias monoparentais ou jovens que vivam sozinhos. Mercado existe. Ainda este fds, um amigo, depois de dois anos de procura, lá conseguiu encontrar um T1...

A principal dificuldade que se apresenta são as terriveis "leis do mercado". Obviamente que á muito mais rentavel para um empreiteiro a "solução Rinchoa". Compra-se um terrenozito por meia duzia de tostões, mais uns milhares de contos em materiais de qualidade duvidosa e , verdadeiro milagre da multiplicação do pães, temos um mamarracho que vale 1.000.000 de euros.

Daí que coubesse à autarquia uma serie de incentivos à recuperação. E teria outro papel fundamental, que se prende com um verdadeiro vírus que assassina os centros historicos: o automovel. Ninguém nos tempos que correm quer deixar o bichinho muito longe da porta. Dái que fosse premente, um levantamento exaustivo, que permitisse um plano de estacionamento exclusivo para moradores, alías como se faz já um pouco por todo o país.

O segundo vector assentaria então na tentativa de criar as referidas atracções turisticas. Uma percentagem minima dos imoveis, seria então indexada a funções museologicas. Tema que discutirei noutra ocasião, pela sua extensão e complexidade.

O argumento, para tudo ficar na mesma, será sempre o financeiro. Demagogia apenas. Se pegarmos, no exemplo do Palacio dos Desportos, verdadeira obra joanina e nos cerca de 5.000.000 de euros que custou...

Se os incentivos , exacerbando os numeros, atingissem um valor médio de 25 mil euros, aquela infraestrutura pesada, sem uso, seria convertida na recuperação de 200 imoveis!

graça martins said...

Zémanel,
incrível!!! a tua capacidade de resposta ao desafio.

O Jorge Simões fala no novo livro-revista Nova Augusta no fenómeno "donut" de que sofre Torres Novas, resolve-se a circunferência periférica recheada de "chantilly" e açúcar caramelizado e o centro é um buraco! Vale a pena ler pois é pertinente para a discussão.

Também acho interessante a reflexão feita pelo "bicho_mau". Avanço com mais alguns tópicos, até porque não é apenas o centro da cidade que me deixa preocupações - o "Rossio" - também me apoquenta (em garota quando vinha a Torres Novas, de Lisboa, era um centro vivo da cidade com a "feira do gado", a "feira de Março", etc. era um espaço de encontro, de vivacidade. Por localização tem uma vista magnífica sobre a cidade, é quase uma varanda para a cidade de Torres Novas e...no entanto...tornou-se numa zona esquecida e desprezada onde, no entanto, existe uma varanda lindíssima em ferro numa casa abandonada que faz muito tempo me fascina, além da vista que o recorte das janelas das casas abandonadas emoldura e deixa ver).

Continuando...a recuperação do "Jardim das rosas" e a organização do rio (embora por terminar) foi possível. Acho estranho o edifício da nova biblioteca ser sobredimensionado face ao local em que está inserido (a interferência visual com o castelo é notória e seria desnecessária) e face às exigências de gestão do espaço que, espero, possibilitem uma rentabilização de um edifício tão grande, creio que, de necessário, urgente e pertinente, não seria necessário tanto (!), mas a mentalidade vigente é "à grande" e não em equilíbrio.

Tomar tem, neste momento, o acesso facilitado, o que não sucedia até agora. Este acesso pode ter a direcção de Tomar como de Torres Novas, colocando-se a hipótese de tornar desejável aos jovens recém licenciados pelo IPT também preferirem vir para cá, porque não?

Até porque Tomar tem diversos problemas urbanísticos muito mais graves que Torres Novas. Quando me referia a Tomar, referia-me essencialmente ao exemplo dos jovens criativos que se impõem ao espaço existente, apesar das dificuldades, apesar de tudo!

Esse exemplo é que eu acredito, deva ser tomado em conta. No entanto a necessidade e a exigência deve ser criada e, para isso, deve existir gente nova e inovadora com ideias, com propostas.

Para além disso creio que a autarquia tem todo o interesse em incrementar o desejo de permanência e acolhimento aos jovens, nas condições de acesso à recuperação para habitação, mas, a meu ver, essencialmente, na promoção de projectos de recuperação para o desenvolvimento de pequenas empresas e comércio de pequeno formato. Digo isto porque existe muita gente nova com capacidade para agarrar uma possibilidade que seja. Temos muitos criativos que Torres Novas desconhece mas que, no circuito nacional e mesmo internacional já encontraram o seu espaço de intervenção (até no Entroncamento, mas aqui não!).

Creio que um programa de incentivo seria fundamental, pela responsabilização dos intervenientes (que sucede naturalmente quando são protagonistas das iniciativas), pela facilidade aos processos de burocracia inerentes, pela recuperação doa acessos e, como refere o "bicho_mau", também pela comodidade de estacionamento digno e porque não, mais bonito que o existente (outro factor que isola o centro histórico).

Existe potencial humano!!! é só necessário cativá-lo!

Conheço muita gente que, certamente teria capacidade e gostaria de aceder a uma zona cuja história e, inclusivé, arquitectura, torna aliciante e desafiante.

De resto tudo acontece por sinergia.

A única coisa que é fundamental!!! é a autarquia (porque não vejo outra solução) ter interesse e ver mais longe...ao perto.

Ou seja: Criar uma equipa de técnicos, arquitectos, designers, economistas, engenheiros, técnicos, etc. NOVOS de preferência!!! (porque não estão ainda corrumpidos às pressões externas ou internas, porque trazem inovação, porque têm informação actualizada, porque os de sempre já mostraram o que valem, porque sim!)senão é mais do mesmo e, aqui para nós, a cultura artística, arquitectónica e visual dos torrejanos
INSTALADOS! deixa a desejar.

(ex: Não sei quem assegura o grafismo do Boletim Municipal de Torres Novas, mas o Boletim Municipal de Tomar é da responsabilidade de um jovem de vinte e picos anos, licenciado em Design pelo IPT e deixa o nosso ao longe em qualidade gráfica o que resulta num cuidado acrescido pelo texto e informação - provavelmente menos bem pago, mas bem empregue e bem empregado).

(NOTA:peço desculpas por estar sempre a dar o exemplo de Tomar, realidade que conheci faz pouco tempo, o exemplo que sugiro não é, de toda, sobre a autarquia que também deixa muito a desejar, mas sobre os jovens)

Por tudo isto, acho que a exigência de que falo não é sinónimo de mais investimento financeiro, mas maior equilíbrio e gestão de recursos humanos, materiais, paisagísticos, urbanísticos e económicos.

Por vezes com menos faz-se mais e melhor. Temo que em Torres Novas o lema seja maior e não melhor.

Também acredito que o investimento não seria muito pois penso (já não sei se existem, mas existiram) que a nível nacional existem programas de incentivo à recuperação (creio, não sei, que a biblioteca e o Teatro Virgínia tiveram orçamentos existentes associados). Acho que bastava facilitar e criar a tal equipa de especialistas, lançar o isco e ver o que acontecia...parece simples, não?

Para mim, a antiga fábrica de móveis e o antigo mercado são lindíssimos com capacidades diversas de utilização qualitativa e criteriosa do espaço...enfim...enquanto as chuvas diluvianas não os transformarem em pó e lixo.